A Rota Bioceânica avança como um dos projetos mais estratégicos para o futuro da
América do Sul. O projeto prevê um corredor rodoviário de 2.396 quilômetros que
conectará os oceanos Atlântico e Pacífico por meio dos portos de Antofagasta e
Iquique, no Chile, passando pelo Brasil, Paraguai e Argentina.
Com a construção prevista para iniciar em 2026, este projeto propõe uma nova lógica
para o comércio exterior brasileiro e sul-americano, que reduzirá em até 17 dias o
tempo de transporte de cargas com destino à Ásia e Oceania, sendo uma alternativa à
passagem pelo Canal do Panamá.
O corredor bioceânico também é uma janela estratégica para ampliar os intercâmbios
comerciais e industriais na própria América. Em 2024, o Brasil exportou US$ 337
bilhões, dos quais aproximadamente 29% foram destinados a países do continente
americano, configurando a segunda região com maior número de exportações, ficando
atrás apenas da Ásia, de acordo com a Comtrade Database das Nações Unidas -
repositório de estatísticas oficiais de comércio internacional.
Essa estratégia vai além da economia, representando uma promessa de integração
física, e cultural, com efeitos multiplicadores sobre o desenvolvimento das cidades ao
longo do trajeto, que vai do fortalecimento do turismo e a valorização das riquezas
culturais e paisagísticas da região, chegando a países fora da rota, como, por
exemplo, a Bolívia, que também deve se beneficiar, com acesso facilitado ao Pacífico
para escoamento de mercadorias.
Porém, para que essa transformação se concretize, a infraestrutura física precisa ser
acompanhada por uma infraestrutura digital robusta, jornada que demanda desafios a
serem superados. Faltam 300 quilômetros de pavimentação no trecho paraguaio, a
ponte binacional sobre o Rio Paraguai precisa ser concluída e os acordos aduaneiros,
sanitários e de segurança entre os países seguem em negociação. É nesse contexto
que a tecnologia deixa de ser apenas um suporte para tornar-se eixo central da
Nesse cenário, o Mato Grosso do Sul, estado que ganha relevância como centro de
distribuição de mercadorias e porta de entrada das exportações brasileiras rumo ao
Pacífico, saiu à frente com a Infovia Digital, uma PPP (Parceria Público Privada) que
visa levar conectividade à região. Por meio da instalação de uma rede de fibra óptica
que conecta o estado e chega até Porto Murtinho - na fronteira com o Paraguai - a
região impulsiona a porta de entrada das exportações brasileiras rumo ao Pacífico,
com impacto direto na atração de investimentos e no desenvolvimento regional.
Outras soluções, como vídeo analítico, câmeras inteligentes, sensores de tráfego e
plataformas integradas de controle aduaneiro são fundamentais para viabilizar a
operação segura da rota. Por exemplo, a conexão com Centros de Operações
Integradas (COIs) permitirá monitoramento em tempo real do Corredor, assim como
promoverá a fiscalização sanitária de cargas e a resposta rápida a emergências.
Nesse ponto, postos de apoio automatizados e sistemas digitais de integração
aduaneira entre os países devem acelerar os trâmites e melhorar as condições de
trabalho dos motoristas, promovendo mais eficiência e segurança.
Além disso, a rota, que hoje é prevista ser majoritariamente rodoviária, deve sofrer
ampliação para outros tipos de modais. As recentes negociações entre Brasil e China
para expansão ferroviária indicam que o projeto tende a ganhar ainda mais
complexidade logística e, com isso, cresce a importância de uma infraestrutura
tecnológica à altura desse desafio.
Mais do que uma via de escoamento de produtos, a Rota Bioceânica tem o poder de
conectar pessoas, culturas e cadeias produtivas, impulsionando o desenvolvimento de
cidades ao mesmo tempo em que facilita o comércio exterior de países latino-
americanos. Neste novo mapa de integração sul-americana, a tecnologia deixa de ser
coadjuvante e passa a ser a base que sustentará a competitividade, a segurança e a
fluidez de todo o projeto.
*Por Ricardo Scheffer, CEO da SONDA do Brasil, líder regional em serviços de
Transformação Digital.